Um morador de Santos ganhou uma batalha judicial contra o Banco do Brasil neste mês. O idoso, de 84 anos, foi vítima de um golpe telefônico e teve cerca de R$ 28 mil em compras realizadas entre cartão de crédito e débito em um período menor do que 24 horas. O caso aconteceu em 17 de novembro de 2021.

A decisão do juiz da 12ª Vara Cível do Foro de Santos, Rodrigo Garcia Martinez, alega que o Banco do Brasil não adotou os cuidados necessários para que a vítima não ficasse exposta às lesões que sofreu.

Conforme descrito na sentença do juiz, estava nitido o caráter fraudulento das operações bancárias, tendo em vista que foram feitos saques, transferências e compras de valores consideráveis, de forma sucessiva e em um curto espaço de tempo.

Além disso, a autoridade reforça que as transações bancárias realizadas entre débito e crédito eram claramente desconexas ao perfil de consumo e do padrão financeiro do idoso, que é cliente do banco há mais de 30 anos.

Em entrevista para A Tribuna, a filha da vítima, uma jornalista de 54 anos, explica que seu pai está envergonhado da situação e prefere não falar sobre o caso. Contudo, reforça que o idoso caiu em um golpe telefônico.

“Ele foi vitima de uma falsa central telefônica. Ligaram e fizeram todo aquele procedimento informando que havia uma operação suspeita. Pediram para ele digitar alguns números e para ligar no número que estava no verso do cartão, o que deu uma certa segurança ao meu pai”, conta.

Durante a ligação, o idoso diz ter passado por setores de “cancelamento” do cartão, pois o mesmo estava com movimentações suspeitas. “Por fim, pediram para ele cortar o cartão, colocá-lo em um envelope e lacrá-lo para enviar para a central de fraudes. Veio um motoboy e pegou o cartão na casa dele”.

Apesar da movimentação estranha, o idoso acreditou na ligação pela quantidade de dados que possulam. Segundo a filha dele, eles trocaram informações pessoais e demonstraram ter acesso a documentos sigilosos.

“Fizeram vários saques, no débito e crédito, em um curto espaço de tempo. Totalmente fora do perfil dele. Meu pai não usa o cartão de crédito. Aí já tinha uma questão que o banco podia ter alertado, mas não o fez. Sendo que ele é cliente do Banco do Brasil desde sempre”, explica.

A jornalista relata que foram feitas compras que totalizaram no valor de R$ 27.861,02 em um período menor do que 24 horas. As transações começaram após a entrega do cartão ao motoboy que supostamente trabalhava para o Banco do Brasil.

A vitima tomou ciência do golpe em que havia caído apenas no dia seguinte. O idoso foi até a instituição financeira e se deparou com as transações bancárias. Mesmo com documentos e explicações, ele não conseguiu realizar o cancelamento das operações.

Tive que insistir muito para que a gente procurasse um advogado, porque ele estava se sentindo muito constrangido, como se tivesse cometido um erro. Ou seja, ele quase estava em uma depressão e dei um ‘chacoalhão’ para ir atrás de ajuda para reverter a situação. O banco está errado”, afirma.

O caso tem pouco mais de um ano, porém ainda não há novidades sobre a quadrilha ou o paradeiro do motoboy que buscou o cartão. “Não vejo empenho da polícia, nem mobilização das instituições financeiras para criar algo em prol dos clientes lesados, vítimas de golpe”.

Após o golpe, vem a vergonha. A jornalista relembra que o pai ficou muito envergonhado e cabisbaixo com a situação. A vitima chegou a demorar días para contar à familia sobre o ocorrido. Assim que tomou ciência sobre o caso, resolveu levar para a justiça.

“O cartão de crédito poderia ter sido bloqueado. Mas, não fizeram nada. Ele foi no dia seguinte ao banco e a gerente nada fez. Foi meio que ‘problema é seu. Não nosso’. Até que marquei com o advogado para a gente dar entrada no processo”, comenta.

Para ela, foi muito importante o acolhimento no escritório de advocacia. A mesma diz que sentiu que o pai dela tirou um ‘peso enorme’ das costas ao sair do escritório. “Ele ficou feliz de ter ganho a causa. Ele fala que não imaginava que pudesse ganhar, pois estava se culpando”.

O advogado da vítima, Fabricio Sicchierolli Posocco, conta que foi procurado pela familia para buscar orientações e uma possível restituição do prejuízo. Neste momento, o idoso já tinha feito boletim de ocorrência e procurado o banco, porém não obteve sucesso.

“As operações que foram feitas, para um senhor daquela idade e pelos valores, fogem totalmente do perfil do cliente. Eram compras em adegas de bebidas realizadas à noite, em salões de estética, estacionamento e lavagem de carro. Todas em valores extremamente altos, coisa de R$ 5 mil”, diz.

O especialista reforça que é um golpe comum cair e a vergonha acaba impedindo muitas vítimas de buscarem por seus direitos. “As pessoas se sentem tristes e extremamente envergonhadas de terem caido em uma cilada. Principalmente as pessoas mais idosas. Apesar do fato acontecido, é importante que essas pessoas façam um boletim de ocorrência e procurem um advogado de confiança para buscar o ressarcimento”.

Além da devolução do valor em dinheiro gasto nas operações, a vítima terá correção monetária e juros nesta mesma quantidade de dinheiro. Além de R$ 5 mil por danos morais causados pela instituição durante o golpe. O banco ainda pode recorrer.

“Ainda que o banco possa recorrer, nós não acreditamos no sucesso do recurso. A sentença foi muito bem fundamentada e o juiz foi extremamente sensível em reconhecer os danos relacionados a vitima”, conclui a defesa.

A Tribuna procurou o Banco do Brasil, que informou apenas que está avaliando o teor da decisão mencionada e que “somente se manifestará sobre os seus termos nos autos do processo”.